domingo, 17 de maio de 2015

A disputa pela posse da verdade - os perfis humanos

No conturbado julgamento de Jesus, Pilatos, o representante de César, deu sinais de estar confuso entre a necessidade de agradar a multidão ou acolher a voz da consciência, a qual certamente instigava-o a reconhecer que se encontrava diante de um poder superior. 

Possivelmente vivenciou instantes de angústia. Entretanto, porque não conseguiu ultrapassar os limites do intelecto, o qual lhe lembrava dos seus interesses imediatos, cedeu ao apelo da massa humana. Esta, por deixar-se levar pelas paixões, permite-se com maior frequência as escolhas equivocadas. 

(...) Sem o fermento do amor, o apego desmedido à filosofia converte-se em fanatismo; a necessidade de tudo comprovar pela razão transforma-se em descrença; e sem a religiosidade que nos reconecta com Deus sentimo-nos desamparados e caminhados ás cegas, motivados pela descrença ou pelo fanatismo, ambos impeditivos da nossa evolução.(...)

Caifás personificou o fanatismo. Os fanáticos apegam-se às suas crenças como se fossem as únicas possíveis, com total exclusão de qualquer outra. Fecham-se para novas possibilidades e, com frequência, tornam-se intolerantes. A falta de visão plural leva-os a estacionar nos seus pontos de vista. Com isso, além de não caminhar, emperram a marcha dos outros. 

Os fanáticos são homens apaixonados que sem terem aprendido a amar, ainda tomam emoções e sensações como se fossem sentimentos profundos. Entusiasmados eles se apegam facilmente às crenças superficiais como se fossem o objetivo de suas vidas. Mas, porque as suas crenças são frágeis, mostram-se impotentes para sustentá-las nos momentos de aferições. Por isso, não raro, tendem a resvalar para o extremo oposto, a descrença. (...)

Herodes Agripa agiu como os incrédulos em geral que, desacreditados da religião, apegam-se aos sentidos e desprezam tudo o que não possa ser comprovado pela razão. Orgulhosos, duvidam não porque discordem, mas porque não se dignam sequer a analisar , uma vez que acreditam ter superado a frágil visão dos crentes.

Entre uma e outra posição situa-se a grande massa dos indecisos ou mornos que, a exemplo de Pilatos, oscilam entre crer e descrer. Alienados ficam à mercê da influência dos outros. A dúvida é para estes a pedra de tropeço, pois no receio de errar, optam por não arriscar e permanecem à margem. Não caminham e não promovem o avanço geral.

Quando chegam a tomar consciência dos equívocos cometidos, contraem-se na culpa numa tentativa de esconder-se da luz que insiste em alcançá-los. Esse movimento de contração da culpa projeta-se em atrofias morais as quais reverberam nas existências seguintes. 

Veem muitas vezes daí os reflexos da baixa autoestima, a qual dá origem a várias disfunções do sentir, algo que afeta boa parte da humanidade. Na tentativa de escapar da baixa autoestima muitos procuram obter sucesso a qualquer custo, sem perceberem que repetem a tentativa equivocada de expandir o ego. 

*Trecho do livro Mediunidade sem Fronteiras, cap.3, A disputa pela posse da Verdade, págs 37 a 39.
Editora Inede. Autora: Fátima Ferreira

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