Um caso de licantropia narrado por André Luiz, no livro "Libertação" . Interessante observar o material fornecido pela mente da "vítima" da hipnose. O poder da mente nos destinos da vida.
Confira.
Confira.
- André Luiz vai a uma missão na região dominada pelos chamados "Dragões", acompanhado do instrutor Gúbio e de outro companheiro, o Élio. Eles acompanham uma cerimônia dos "juízes" diante dos espíritos subjugados no local. Uma mulher é o alvo de um dos hipnotizadores.
"E
incidindo toda a força magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre
uma pobre mulher que o fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna:
—
Venha! venha!
Com
expressão de sonâmbula, a infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da
multidão e colocando-se, em baixo, sob os raios positivos da atenção dele.
—
Confesse! confesse! — determinou o desapiedado julgador, conhecendo
a organização frágil e passiva a que se dirigia.
A
desventurada senhora bateu no peito, dando-nos a impressão de que rezava
o “confiteor” e gritou, lacrimosa:
—
Perdoai-me! perdoai-me, ó Deus meu!
E
como se estivesse sob a ação de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar
o íntimo, diante de nós, falou, em voz alta e pausada:
—
Matei quatro filhinhos inocentes e tenros... e combinei o assassínio de meu
intolerável esposo... O crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto
me demorei no corpo...
Tentei
fugir-lhe através de todos os recursos, em vão... e por mais buscasse
afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me chafurdei no charco
de mim mesma...
De
repente, parecendo sofrer a interferência de lembranças menos dignas, clamou:
—
Quero vinho! vinho! prazer!...
Em
vigorosa demonstração de poder, afirmou, triunfante, o magistrado:
—
Como libertar semelhante fera humana ao preço de rogativas e lágrimas?
Em
seguida, fixando sobre ela as irradiações que lhe emanavam do temível
olhar, asseverou, peremptório:
—
A sentença foi lavrada por si mesma! não passa de uma loba, de uma loba...
A
medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na
condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável,
modificava a expressão fisionômica. Entortou-se-lhe a boca, a cerviz
curvou-se, espontânea, para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas.
Simiesca expressão revestiu-lhe o rosto.
Em
voz baixa, procurei recolher o ensinamento de Gúbio, que me esclareceu
num cicio:
—
O remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também
é uma brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento.
A dureza coagula-nos a sensibilidade durante certo tempo; todavia,
sempre chega um minuto em que o remorso nos descerra a vida mental aos
choques de retorno das nossas próprias emissões.
E
acentuando, de modo singular, a voz quase imperceptível, acrescentou:
—
Temos aqui a gênese dos fenômenos de licantropia, inextricáveis, ainda,
para a investigação dos médicos encarnados. Lembras-te de Nabucodonosor, o
rei poderoso, a que se refere a Bíblia? Conta-nos o Livro Sagrado que
ele viveu, sentindo-se animal, durante sete anos. O hipnotismo é tão velho quanto
o mundo e é recurso empregado pelos bons e pelos maus, tomando-se por
base, acima de tudo, os elementos plásticos do perispírito.
Notando,
porém, que a mulher infeliz prosseguia guardando estranhos caracteres
no semblante perguntei:
—
Esta irmã infortunada permanecerá doravante em tal aviltamento da forma?
Finda
longa pausa, o Instrutor informou, com tristeza:
—
Ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse. Além disso, se
se adaptou às energias positivas do juiz cruel, em cujas mãos veio a cair, pode
também esforçar-se intimamente, renovar a vida mental para o bem supremo
e afeiçoar-se à influenciação de benfeitores que nunca escasseiam na senda
redentora. Tudo, André, em casos como este, se resume a problema de sintonia.
Onde colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida." (...)
Livro: Libertação (Capítulo 5, Operações Seletivas)
Autor: André Luiz / Chico Xavier