segunda-feira, 17 de junho de 2013

A licantropia, por André Luiz

Um caso de licantropia narrado por André Luiz, no livro  "Libertação" . Interessante observar o material fornecido pela mente da "vítima" da hipnose. O poder da mente nos destinos da vida. 
Confira.

- André Luiz vai a uma missão na região dominada pelos chamados "Dragões", acompanhado do instrutor Gúbio e de outro companheiro, o Élio. Eles acompanham uma cerimônia dos "juízes" diante dos espíritos subjugados no local. Uma mulher é o alvo de um dos hipnotizadores. 

"E incidindo toda a força magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna:
— Venha! venha!
Com expressão de sonâmbula, a infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da multidão e colocando-se, em baixo, sob os raios positivos da atenção dele.
— Confesse! confesse! — determinou o desapiedado julgador, conhecendo a organização frágil e passiva a que se dirigia.
A desventurada senhora bateu no peito, dando-nos a impressão de que rezava o “confiteor” e gritou, lacrimosa:
— Perdoai-me! perdoai-me, ó Deus meu!
E como se estivesse sob a ação de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar o íntimo, diante de nós, falou, em voz alta e pausada:
— Matei quatro filhinhos inocentes e tenros... e combinei o assassínio de meu intolerável esposo... O crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto me demorei no corpo...
Tentei fugir-lhe através de todos os recursos, em vão... e por mais buscasse afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me chafurdei no charco de mim mesma...
De repente, parecendo sofrer a interferência de lembranças menos dignas, clamou:
— Quero vinho! vinho! prazer!...

Em vigorosa demonstração de poder, afirmou, triunfante, o magistrado:
— Como libertar semelhante fera humana ao preço de rogativas e lágrimas?
Em seguida, fixando sobre ela as irradiações que lhe emanavam do temível olhar, asseverou, peremptório:
— A sentença foi lavrada por si mesma! não passa de uma loba, de uma loba...
A medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a expressão fisionômica. Entortou-se-lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea, para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão revestiu-lhe o rosto.

Em voz baixa, procurei recolher o ensinamento de Gúbio, que me esclareceu num cicio:
— O remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também é uma brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento. A dureza coagula-nos a sensibilidade durante certo tempo; todavia, sempre chega um minuto em que o remorso nos descerra a vida mental aos choques de retorno das nossas próprias emissões.

E acentuando, de modo singular, a voz quase imperceptível, acrescentou:
— Temos aqui a gênese dos fenômenos de licantropia, inextricáveis, ainda, para a investigação dos médicos encarnados. Lembras-te de Nabucodonosor, o rei poderoso, a que se refere a Bíblia? Conta-nos o Livro Sagrado que ele viveu, sentindo-se animal, durante sete anos. O hipnotismo é tão velho quanto o mundo e é recurso empregado pelos bons e pelos maus, tomando-se por base, acima de tudo, os elementos plásticos do perispírito.

Notando, porém, que a mulher infeliz prosseguia guardando estranhos caracteres no semblante perguntei:
— Esta irmã infortunada permanecerá doravante em tal aviltamento da forma?
Finda longa pausa, o Instrutor informou, com tristeza:
— Ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse. Além disso, se se adaptou às energias positivas do juiz cruel, em cujas mãos veio a cair, pode também esforçar-se intimamente, renovar a vida mental para o bem supremo e afeiçoar-se à influenciação de benfeitores que nunca escasseiam na senda redentora. Tudo, André, em casos como este, se resume a problema de sintonia. Onde colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida." (...)

Livro: Libertação (Capítulo 5, Operações Seletivas)
Autor: André Luiz / Chico Xavier

segunda-feira, 3 de junho de 2013

São espíritos involuídos os pretos velhos e caboclos?

Amigas e amigos,
disponibilizamos abaixo trecho do terceiro capítulo do livro "Lições da Mediunidade", de autoria de Pedro Camilo (BA), que nos convida a uma reflexão sobre o "preconceito" existente no Movimento Espírita contra a presença de espíritos em roupagem de pretos velhos e caboclos. 
Confira.

<Ao classificar os caboclos e pretos-velhos como inferiores e ignorantes, os nossos companheiros de ideal não são, apenas, movidos pelo preconceito de julgar desprestigiosa a vida simples e despojada que algumas grupos étnicos tiveram ou têm. Agem, também, com desconhecimento doutrinário, esquecidos de que esses espíritos já tiveram outras reencarnações, que podem ter se dado entre a cultura e as academias do saber, encontrando-se momentaneamente envoltos por uma aparência primitiva, embora não menos dotada de qualidades superiores.

<Surpreendemos opiniões variadas a esse respeito, grande parte delas eivada desse preconceito incompreensível. Para parcela do Movimento Espírita, não devemos aceitar a presença de espíritos que se intitulam pretos-velhos porque tal designação revelaria apego, atavismo e ignorância, e “estamos aqui para tirar a ignorância”. Afirma-se, ainda, que devemos convocar o espírito a que assuma outra roupagem, de uma outra encarnação, adotando seu nome de batismo, explicando-lhe que, agora, já não é mais “pai” ou “mãe” fulana, e sim “irmão” ou “irmã”.

<Apesar do respeito que temos por todos e por toda opinião, discordamos completamente dessa visão. É claro que não devemos manter, com esses espíritos, uma relação de escravidão: nem devemos querer escravizá-los, nem aceitar que tenham tal inclinação. Caso tenham sido escravos, tal situação ficou no passado, não devendo ser revivida sob qualquer pretexto. Contudo, não se pode inferir que sejam ignorantes por simplesmente optarem por um designativo que lhes foi caro, como o de “pai”, “mãe”, “vô” ou “vovó”, muito menos pela aparência que escolhem manter na vida espiritual.

<É perfeitamente natural e lógico que os espíritos mantenham suas vinculações culturais e religiosas. Assim, não é tanto por isso que devemos avaliar seu nível de evolução espiritual, mas sim pelo que dizem, pelo que fazem e pelo teor de suas vibrações. Não podemos transportar os falsos julgamentos feitos a partir da aparência para a relação com os espíritos.

<Manifestar-se como preto-velho ou caboclo revela atavismo? Sim, certamente, não poderemos negar. No entanto, o que diremos de espíritos que se revelam como padres, freiras, senadores romanos ou médicos alemães? Também isto não revelará atavismo? Não será, também, expressão de apego às experiências de uma encarnação que mais marcou o espírito? E o designativo de “irmão” ou “irmã”, que é sugerido para os pretos-velhos e os caboclos, também não se refere ao atavismo católico, à vida dos primeiros cristãos e dos monastérios, pois não é assim que costumamos designar os religiosos católicos?

<Assim, devemos ter muito cuidado com argumentos que, ainda que não intencionalmente, alimentam uma espécie de separatismo espiritual. Tratar índios e ex-escravos como inferiores pressupõe tratar os demais – padres, freiras, senadores romanos, médicos alemães e brasileiros – como superiores, numa clara expressão de “eugenia espiritual”. Isto, sim, nos colocaria em condição de ignorância dos valores que verdadeiramente importam na vida de Além Túmulo, depondo contra os princípios do Espiritismo e do próprio Cristianismo.>

* Eugenia (significado)
Por Dicionário inFormal (SP) em 25-02-2008
é um termo criado por Francis Galton (1822-1911), que a definiu como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. O tema é bastante controverso, particularmente após ter sido parte fundamental da ideologia de pureza racial nazista, a qual culminou no Holocausto. Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético usadas atualmente em plantas e animais, ainda existe um certo receio quanto ao seu uso entre os seres humanos, chegando até o ponto de alguns cientistas declararem que é de fato impossível mudar a natureza humana, negando o caráter animal de nossa espécie.

Atualmente, diversos filósofos e sociólogos declaram que existem diversos problemas éticos sérios na eugenia, como o abuso da discriminação, pois ela acaba por categorizar pessoas como aptas ou não-aptas para a reprodução.