sábado, 20 de fevereiro de 2016

Espiritismo com espíritos, por Yvonne Pereira


“Que se deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o além-túmulo?”

“Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”

O Livro dos Espíritos
Questão 935

Em encontro fraterno com Yvonne do Amaral Pereira, por aqui na erraticidade, tivemos a honra de ser portador de um carinhoso pedido seu para com a mediunidade. Assim, transcrevemos as palavras da inesquecível intérprete da célebre obra “Memórias de um Suicida”:

“Um olhar minucioso na história será o bastante para constatarmos a razão dessa belíssima questão, formulada por Allan Kardec à sublime “Equipe Verdade”.

“Em todas as épocas, a comunicação com os “mortos” sofreu açoites e reproches por parte dos “gênios das trevas”, por uma única razão: a Verdade.

“As “furnas do mal” sabem que a única forma de dominar a humanidade terrena será manter o homem no materialismo, na ilusão, e, por esse motivo espúrio, consomem seus dias em planos nefandos objetivando ocultar a imortalidade. Desde as proibições no velho testamento até o momento presente, percebe-se claramente a infeliz intenção de empanar a inexistência da morte, mantendo os homens na ignorância. 

“A luz meridiana do Espiritismo, porém, destruiu as frias lápides e descerrou os portais da vida espiritual, conclamando a humanidade a um novo e mais lúcido estágio: a Era do Espírito.

“A história... Ah! a história... Mesmo dentro das fileiras do Consolador, os fatos nem sempre caminharam em identidade com essa Verdade. Foi preciso um futuro (o nosso presente hoje) para avaliarmos seus reflexos, suas conseqüências...

“O iniciar do século XX deflagrou uma farta fenomenologia nos rincões espíritas. Muita vez excedendo seus limites educativos, surgiram espetáculos e fantasias...

“Logo a seguir, espíritas, conscientes e embasados no “guia dos médiuns e evocadores”, estimularam medidas cautelares para um exercício seguro e produtivo em razão dos abusos. O inesquecível Leopoldo Machado, um dos mais vivazes espíritas que a seara já teve o ensejo de conhecer, lançou um lema oportuníssimo: “Espiritismo de Vivos”, e trabalhou árdua e proficuamente nesse propósito; os jovens ganharam apoio integral e nasce uma nova etapa. As reuniões de intercâmbio com o além foram incentivadas a uma maior privacidade, além da que já possuíam; foi quando passamos a ler, com freqüência, as placas indicadoras “reunião privativa” nos centros espíritas de todo o país, cujo nome mais adequado seria “reuniões isoladas”, em função da sua desfiguração junto ao complexo de atividades nas casas em que se efetuavam. Nenhum vínculo, praticamente, era estabelecido com o grupo carnal das nobres instituições; passavam-se às “ocultas” sem que ninguém soubesse das práticas ali exercidas, recordando os velhos templos iniciáticos do esoterismo. Adornavam a vaidade de alguns e, com isso, perdiam sua função magnânima de colocar os mortais em contato com sua pátria de origem...

“Mais adiante, alguns companheiros mais contestadores fizeram apologia às reuniões totalmente públicas, com fito de romperem com os prejuízos dos “ensinos secretos” que avassalaram vários grupos.

“Concomitantemente, a riquíssima literatura mediúnica inundou os ambientes espíritas de reflexões e estudo, deixando mais claro ainda o quanto as forças psíquicas carecem de bases apropriadas, a fim de atingirem fins libertadores. Normas são expedidas sem muita profundidade de avaliação. Ocorreu uma mais acentuada “reclusão coletiva” na mediunidade, através de novas proibições. A psicografia pública, o receituário, as manifestações de benfeitores nos “cultos” no lar e outras tantas expressões de liberdade com responsabilidade, de medianeiros seguros, são tomadas como desajustes - o cerceamento foi insensato. 

“Levantaram-se bandeiras que elencavam a “sofrível dependência dos Espíritos”, sendo que a insensatez apostou na solução de ignorá-los, para preservar os homens do engodo. A palavra mistificação e animismo tornaram-se as senhas dos artífices dessa etapa. Tão grande receio foi incutido sobre essas temáticas, que muitos abandonaram o intercâmbio em razão de encontrarem-se em fulminante obsessão, segundo suas precipitadas aferições pessoais. Jovens desejosos de integrar a escola das comunicações espirituais são afastados, com teorias psicológicas e teses sem fundamentação lógica. Assim, mais uma vez, a inferioridade humana, indevidamente, por despreparo para as “coisas santas”, adapta os excelsos ensinos das vozes do além-túmulo às conveniências pessoais da hora, passando de geração em geração os métodos e idéias que não foram cravejados pelo crivo do bom senso. O purismo doutrinário tornou-se um “cânone intocável”, e as seqüelas dessas medidas levadas a efeito pelos idos das décadas de 40 a 60 são visíveis até nos dias atuais. 

“Ressumam os reflexos dessa cultura cerceadora: a instituição! Mais uma vez o institucionalismo! Dessa vez no que há de mais nobre e Divino: a mediunidade. Medidas disciplinares, que deveriam servir apenas como normas educativas, terminaram por institucionalizar o intercâmbio com os “mortos”. 

“Instituíram-se costumes estranhos a uma prática mediúnica espontânea, saudável e livre. Temos uma “nova proibição”, um “novo golpe”, sutil, ardiloso, avalizado por um purismo que mais dogmatizou os celeiros espíritas que, propriamente, os auxiliou a manterem o Espiritismo “nos trilhos” como muitos, infelizmente, defendem. Saiu-se do extremo do abuso e entrou-se no extremo do medo. Medo de lidar com as questões da alma, e em razão desse medo dominante e quase coletivo, percebe-se o lamentável estágio de preciosismo mediúnico em nome da prudência!

“A título de disciplina foram estabelecidos caminhos para banir a curiosidade, confinando, cada vez mais, o exercício mediúnico a lugares específicos e com ascendência ao socorro dos sofredores.

“Fatos inconciliáveis com a lógica do pensamento Kardequiano foram formalizados como, por exemplo, médiuns que recebem “Espíritos de luz” e “médiuns que recebem sofredores”, dando a impressão que o psiquismo dos medianeiros tem compartimentos para fins específicos, não existindo a possibilidade dos contrários se definirem em uma só mente. São as invencionices, muito bem explicitadas pelo codificador; sofismas que são “soprados” pelas “falanges do estacionamento”, os “mentores intelectuais do retardo” e da inépcia. 

“Assim, boa parcela dos cooperadores espíritas não tem acesso aos horizontes da imortalidade, no que tange às suas atuais vivências. Estuda-se Espiritismo, pratica-se a caridade, respira-se o clima dos ambientes doutrinários, sem a sublime concessão de vislumbrar, pelos sagrados portais da mediunidade, a movimentação do plano espiritual em torno dos passos de quantos aderem e colaboram com a consoladora causa dos Espíritos...

“É o Espiritismo sem Espíritos, longe da proposta dignificadora lançada pelo incomparável Leopoldo Machado, quando conclamou o seu “Espiritismo de Vivos”, porque em tempo algum ele desdenhou o contato com os Espíritos, chegando mesmo a enaltecer a bênção imerecida de suas companhias.

“Sem quaisquer contrapontos ao grande idealista da mocidade espírita, elencamos para a hora que passa um novo lema: Espiritismo com Espíritos.

“Nem dependência e acomodação, nem receio e preciosismo; parceria, eis a proposta.

“Trabalho conjunto. Um engenho que funcione na interação dos passos entre homens e Espíritos, aproximando-nos nos serviços do bem e do amor. 

“Nem fenômeno irretorquível e comprovador como prioridade, nem, tampouco, a ausência de provas irrecusáveis da autenticidade mediúnica.

“Que os centros espíritas abram suas portas espirituais para a vida exuberante do mundo espiritual, preparem seus médiuns ao desiderato. Evangelho no coração, Espiritismo no cérebro, o bem na ação, sem medo de titubear.

“A prática mediúnica pode ser considerada como excelente termômetro dos recursos do centro espírita. A ampliação de sua feição operacional poderá atingir níveis de extraordinária e oportuna parceria, levando integrantes dos grupos doutrinários a valorosas conquistas de despertamento e conscientização nos rumos do crescimento íntimo.

“A riqueza e utilidade dessas vivências entre os dois mundos será aferida pelo desapego. Dizem os Espíritos que “À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais.” Portanto, quanto mais pudermos, ensejemos, aos freqüentadores e trabalhadores efetivos de nossas casas de amor, a bênção de experienciarem o que seja a ação dos desencarnados, permitindo-lhes entrever pelas “frestas medianímicas” qual é o modus operandi, as ciladas, os resultados e as comoções existentes e defluentes da vinculação mental, em ambas as esferas de vida. Aprenderão, assim, a maior vigilância, os cuidados indispensáveis na conduta, terão maior amplitude de visão sobre sua reencarnação, reverão velhos amigos que partiram, estabelecerão conúbios gratificantes com benfeitores, terão a alegria de cooperar no bem dos credores de outras eras, e, mais que tudo, passarão a analisar o mundo e os homens “ao longe e distintamente a todos”, como na inspirada fala de Jesus ao cego curado pelas Suas Augustas Mãos.(40)

“O Espiritismo prático, a exemplo do sucedido com o ilustre codificador, ainda que palmilhado na seriedade e nobreza de intenções, não exclui o risco; e para não sofrer esse risco, muitos co-idealistas têm cerceado o que de mais nobre pode existir na transposição entre dois mundos: a espontaneidade.

“O risco da interação mediúnica constitui-se na própria experimentação. A cultura “assistencialista-socorrista” impede seus méritos e sucessos...

“Instauremos o tempo da mediunidade consciente de lucidez moral e estado mental ativo, parceira, jamais propondo a paralisação ou mesmo a suspensão temporária do intercâmbio mediúnico mas, sim, as reavaliações sinceras e benfazejas nos grupos em andamento, e, igualmente, um preparo nos grupos em formação.

“Que fazer para resgatar o tempo da mediunidade livre com responsabilidade? Que caminhos devem perseguir as casas doutrinárias para adequarem-se à era do Espiritismo com Espíritos? Longe de “uniformidade das práticas”, advogada por corações bem intencionados mas ingênuos, convoquemos os grupamentos ao imperioso caminho de descobrirem suas “missões”. Cada conjunto tem sua tarefa, sua necessidade, sua possibilidade. A beleza da reunião de pessoas está em não ter obrigatoriedade de ser igual, todavia, apenas ser. A diretriz é única: Evangelho e Espiritismo; quão bom será, no entanto, quando as agremiações, imbuídas de destemor, arrojarem-se a “talharem sua personalidade”, descobrindo, em parceria com as vozes imortais, o que juntos podemos criar na obra do Pai! 

“Adotemos os critérios que nortearam as pesquisas do Espiritismo nascente: seleção por afinidade, crença, bom senso, desejo sincero de aprender, seriedade e a “espontaneidade evocativa”.

“Temos em mãos, nos dois mundos, os instrumentos imprescindíveis para a realização plena do exercício seguro; falta, sobretudo a vós outros, a coragem e o discernimento...

“Duas marcas não devem ser esquecidas no tempo: o Pentecostes e as irmãs Fox. A primeira foi a consagração das “línguas mediúnicas” chamando os povos daquele tempo em direção à imortalidade, e a segunda foi o clamor dos céus, depois da “época escura” da humanidade, conclamando a terra inteira a sondar as “fronteiras desconhecidas”.

“Até que a ciência inaugure a estrada da aceitação e implemente o “tempo social” dos Espíritos entre os homens, continuemos marchando, paulatinamente, e sem cessar, nos rumos da vida fora da matéria, encontrando-nos, desde já, em plena reencarnação, com os entes queridos que já partiram, fazendo luzir em nossas vidas, por antecipação, a plenitude da imortalidade, conforme asseveram os “sábios luminares” na excelente indicativa: “Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente.”

Livro Unidos pelo Amor, segunda parte, cap. 19, pág. 193.
2ª edição, Editora Inede. 
Autor: Ermance Dufaux e Cícero Pereira / médium Wanderley Oliveira.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Mediunidade e racionalização - caminho da mistificação

Na tentativa de evitar os excessos da imaginação em torno das questões da mediunidade, os espíritas armaram-se de cuidados tais que acabaram racionalizando por demais a prática mediúnica. Esquecem-se de que o intelecto ainda é órgão dos sentidos e, para os espíritos sagazes, os sentidos representam o campo de ação, através dos quais eles se conectam com os médiuns.

Na tentativa de tudo explicar em relação aos fenômenos, os médiuns não encontram a ocasião de serem testados na fé ou de passarem pelas aferições do coração, estas sim, mais apropriadas para validar o que é de ordem espiritual.

Ao perceber a preocupação dos espíritas em fomentar o racionalismo como meio de conter possíveis excessos do fanatismo, os espíritos viram nisso oportunidade de insuflar o mal através do bem aparente. Eles estimularam o rigor disciplinar na tentativa de fazer com que os médiuns, empenhados em manter-se alerta para evitar as mistificações, deixassem de aprofundar o processo de autoconhecimento. E isto é o que representa o meio mais seguro, capaz de evitar que o médium seja mistificado. 

Os médiuns ocuparam-se no sentido de aprender a identificar os meios possíveis pelos quais poderiam vir a ser confundidos. Entretanto, esqueceram-se de que, sem que conheçam profundamente o próprio mundo interior, continuam à mercê dos espíritos que desenvolvem métodos cada vez mais sutis de aproximação.

Isso contribui para a triste situação que atinge grande número de reuniões espíritas. Espíritos fazem-se passar por trabalhadores do Cristo, quando, a bem da verdade, são mentes engenhosas, capazes de enganar até os mais experimentados. Os mais ludibriados são, quase sempre, aqueles que acreditam no vasto conhecimento já adquirido com estudos conceituais, como sendo suficiente para livrá-los do embuste.

Falta-nos ainda a fé que leva o espírito a transpor a barreira que o separa da verdade. Essa fé, capaz de remover montanhas e obstáculos, podemos encontrar em alguns personagens do Evangelho, a exemplo da mulher hemorrágica que, desejando curar-se, venceu a própria inércia, rompeu com as convenções e foi ao encontro dos recursos de que necessitava para curar-se. Ela rompeu com a passividade para tornar-se protagonista da própria existência. Isso é algo que o Alto espera dos medianeiros conscientes do papel que lhe compete. (...)

Trecho do capítulo 3, "A disputa pela posse da verdade", páginas 41 a 43
Livro: Mediunidade sem Fronteiras, autora: Fátima Ferreira
Editora Inede


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Ação mistificadora nos centros espíritas, por Cícero Pereira

Mistificar é engodar, mentir, adulterar. A mentira lamentavelmente passou a fazer parte da vida humana como "hábito necessário". Entronizada como se fosse a verdade, essa "mentira aceitável" nos jogos sociais da aparência e da disputa passou a constituir "mal indispensável". 

Tangendo os assuntos do espírito, ela apresenta-se não somente sob os aspectos do comportamento, mas também na interação com o mundo dos espíritos. Pelas vias da mediunidade a mentira tem grassado em todos os tempos. 

Os centros doutrinários, desde os primeiros tempos, se veem de modo mais ou menos intenso envolvidos com o assunto mistificação, aqui entendido como um engodo de um desencarnado sobre um encarnado. 

Quase sempre nesse tema, a mistificação está de braços dados com a mitificação. Mitificar é idolatrar, supervalorizar a palavra dos "mentores" e aceitar cegamente seus conselhos e ensinos, elevando-os à condição de seres infalíveis. A mitificação, presente em grande parte das nossas instituições espíritas, permite a formação de um campo propício à hipnose do raciocínio, levando grupos e médiuns desavisados e incautos a crerem nas mais estapafúrdias e exóticas mensagens e teorias. 

O milenar "instinto" idólatra-mitológico do homem causa-lhe fascínio e motivação até hoje, desde os imemoriais tempos do horizonte tribal. A adoração a "coisas metafísicas e sobrenaturais" sempre consistiu em fator motivador da fé embrionária, em crescente desenvolvimento. Crer nos espíritos, com idolatria, é inerente à bagagem psicológica dos mitos que o homem desenvolveu em usa jornada de lições milenares. Graças a essa sua fé ingênua e exterior tem ocorrido exorbitações e abusos de todo gênero. 

(...)

O misticismo propicia a superstição, a ritualização, o dogmatismo e a fantasia.

A mitificação favorece o fanatismo, o pieguismo e a idolatria.

Ambos, o misticismo e a mitificação, ensejam a ação mistificadora das nossas casas de bem. 

(...)
O movimento espírita padece, sobremaneira, com os escusos processos de mistificação. Imprescindível indagar-nos com clareza: por que não temos encontrado histórias que sejam frutos de vivências, para ilustrar o modus operandi dos mistificadores atuais? Que preventivos os centros espíritas podem se utilizar na formação de médiuns e grupos seguros? Quais atitudes devem tomar os grupos quando são mistificados? (...)

Trecho do capítulo 9, da segunda parte do livro UNIDOS PELO AMOR.
Autor: espírito Cícero Pereira/médium Wanderley Oliveira 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

A amortização do sentir para fugir da culpa e suas consequências

(...) De tanto repetir o gesto infeliz de justificarmos os nossos equívocos, como meio de preservarmos a imagem idealizada, muitos de nós nos afastamos da nossa essência e nos tornamos mornos no sentir.

Servimos-nos da razão para criarmos subterfúgios capazes de dissimular as nossas fraquezas. Com isso vamos construindo novas máscaras que nos permitam adiar, o quanto possível, o momento de nos responsabilizarmos pelas nossas escolhas. 

Gregório, personagem da obra Libertação (André Luiz/Chico Xavier) é um exemplo de quantos se refugiaram na razão como meio de negar o sofrimento da consciência afogueada pela culpa. O autor nos apresenta um relato exasperado do personagem considerado o Sacerdote dos Mistérios Negros, que assim vocifera para os servidores do bem:

"(...) também noutra época, acreditei na celestial proteção através da atividade religiosa, nos ideais que hoje te empenhas. Entendi, contudo a tempo, que o trono Divino paira distante demais para que nos preocupemos em alcançá-lo. Não há um Deus misericordioso, e sim, uma Causa que dirige. Essa causa é inteligência, e não sentimento. Encastelei-me assim para não soçobrar."

O discurso do justiceiro ilustra o que ocorre além dos vales da sombra quando os espíritos, decepcionados e se sentindo culpados, perdem a vontade de reagir e optam por estacionar no erro, fazendo da iniquidade sua filosofia de vida. Sem coragem para assumir os próprios equívocos e recomeçar, eles se refugiam na razão para não experimentarem a consciência que acusa a falta através da dor.

Constroem castelos de ilusão para se protegerem e se tornam insensíveis à dor e à culpa. A iniquidade é a verdadeira loucura pois leva o espírito a se estagnar, dificultando o dinamismo da evolução. A acomodação de alguns retarda a marcha geral e, de algum modo, concorre para o avanço do mal.

Jesus disse que por causa da iniquidade o amor de muitos esfriaria*. Isso é algo que podemos observar em larga escala, tanto entre os homens como entre os espíritos.

De tanto evitar o auto-enfrentamento, chegamos a negar até mesmo o caráter profilático da dor. É comum ouvirmos de alguns que não fomos feitos para sofrer. De fato, não fomos mesmo criados para sofrer, mas a dor é o efeito dos nossos atos tresloucados.

Uma vez que tenhamos contrariado a lei natural, seremos chamados a reparar todo mal que tenhamos feito e a dor é o alarme da consciência. Compete-nos, contudo, entendermos a diferença entre dor e sofrimento. A dor é um sinalizador do desvio de rota que tenha acontecido em algum momento de nossa existência; ela visa nos impulsionar a reparar as faltas. Já o sofrimento denota a rebeldia do espírito imaturo, que se recusa a aprender a lição. O sofredor é quase sempre aquele resistente que se sente injustiçado pela vida.

Os sofredores vibram no mesmo diapasão dos espíritos que rejeitam as leis Divinas por considerá-las injustas. Por lei de sintonia, são facilmente influenciado por eles. 

Trecho do livro Mediunidade sem Fronteiras, cap. 11, Razão e Iniquidade, págs. 118 e 119
Autora: Fátima Ferreira. Editora Inede

terça-feira, 14 de julho de 2015

O fracasso dos médiuns - sete lições sobre o assunto

"O texto abaixo é uma versão editada de fragmentos retirados do livro “Os Mensageiros”, de Chico Xavier, por André Luiz, Editora FEB. Trata-se de relatos nos quais médiuns desencarnados que falharam em suas missões e, de volta ao Nosso Lar, apresentam reflexões oportunas a todos nós. Livremente editado por Alexandre Cumino."

PRIMEIRO CASO
“Aos vinte anos de idade fui chamado à tarefa mediúnica… A vidência, a audição e a psicografia que o Senhor me concedera, por misericórdia… Entretanto, apesar das lições maravilhosas de amor evangélico, inclinei-me a transformar minhas faculdades em fonte de renda material… Não era meu serviço igual a outros? Não recebiam os sacerdotes católicos-romanos a remuneração de trabalhos espirituais e religiosos? Se todos pagávamos por serviços ao corpo, que razões haveria para fugir ao pagamento por serviços à alma?

Debalde, movimentaram-se os amigos espirituais aconselhando-me o melhor caminho. Em vão, companheiros encarnados chamavam-me a esclarecimento oportuno. Arbitrei o preço das consultas, com bonificações especiais aos pobres e desvalidos da sorte, e meu consultório encheu-se de gente.

SEGUNDO CASO
Grande número de famílias abastadas tomou-me por consultor habitual para todos os problemas da vida. As lições de espiritualidade superior, a confraternização amiga, o serviço redentor do Evangelho e as preleções dos emissários divinos ficaram à distância. Não mais a escola da virtude, do amor fraternal, da edificação superior, e sim a concorrência comercial, as ligações humanas legais ou criminosas, os caprichos apaixonados, os casos de polícia e todo um cortejo de misérias da Humanidade, em suas experiências menos dignas… E transformei a mediunidade em fonte de palpites materiais e baixos avisos.

– Mas a morte chegou… a ronda escura dos consulentes criminosos, que me haviam precedido no túmulo, rodeou-me a reclamar palpites e orientações de natureza inferior. Queriam notícias de cúmplices encarnados, de resultados comerciais, de soluções atinentes a ligações clandestinas. Gritei, chorei, implorei, mas estava algemado a eles por sinistros elos mentais…


TERCEIRO CASO

Fiz quanto pude – exclamava uma velhinha simpática para duas companheiras que a escutavam atentamente –… mas… e o marido? Amâncio nunca se conformou. Se os enfermos me procuravam no receituário comum, agravava-se-lhe a neurastenia; se os companheiros de doutrina me convidavam aos estudos evangélicos, revoltava-se, ciumento. Que pensam vocês? Chegava a mobilizar minhas filhas contra mim. Como seria possível, em tais circunstâncias, atender a obrigações mediúnicas?
Todavia – ponderou uma das senhoras que parecia mais segura de si –, sempre temos recursos e pretextos para fugir às culpas. Encaremos nossos problemas com realismo. Há de convir que, com o socorro da boa vontade, sempre lhe ficariam alguns minutos na semana e algumas pequenas oportunidades para fazer o bem.  Para trabalharmos com eficiência – tornou a companheira, sensata, - é preciso saber calar, antes de tudo. Teríamos atendido perfeitamente aos nossos deveres, se tivéssemos usado todas as receitas de obediência e otimismo que fornecemos aos outros.


Não executei minha tarefa mediúnica em virtude da irritação que me dominou, dada a indiferença dos meus familiares pelos serviços espirituais. Nossos instrutores, aqui, muito me recomendaram, antes, que para bem ensinar é necessário exemplificar melhor. Entretanto, por minha desventura, tudo esqueci no trabalho temporário da Terra.


Não suportava qualquer parecer contrário ao meu ponto de vista, em matéria de crença, incapaz de perceber a vaidade e a tolice dos meus gestos. Preparei-me o bastante para resgatar antigos débitos e efetuar edificações novas; contudo, não vigiei como se impunha. O chamamento ao serviço ressoou no tempo próprio, orientando-me o raciocínio a melhores esclarecimentos; nossos instrutores me proporcionavam os mais santos incentivos, mas desconfiei dos homens, dos desencarnados e até de mim mesma. Nos estudiosos do plano físico, enxergava pessoas de má fé; nos irmãos invisíveis, presumia encontrar apenas galhofeiros fantasiados de orientadores e, em mim mesma, receava as tendências nocivas. Muitos amigos tinham-me em conta de virtuosa, pelo rigor das minhas exigências; todavia, no fundo, eu não passava de enferma voluntária, carregada de aflições inúteis…  […] o receio das mistificações prejudicou minha bela oportunidade.

– É, minha amiga – tornou a interlocutora –, é tarde para lamentar. Tanto tememos as mistificações, que acabamos por mistificar os serviços do Cristo.


QUARTO CASO

- Faltou-me o amparo da esposa. Enquanto a tive a meu lado, verificava-se profundo equilíbrio em minhas forças psíquicas. A companhia dela, sem que eu pudesse explicar, compensava-me todo gasto de energia mediúnica. Minha noção de balanço estava nas mãos de minha querida Adélia. Esqueci-me, porém, de que o bom servo deve estar preparado para o serviço do Senhor, em qualquer circunstância… 

Quando me senti sem a dedicada companheira, arrebatada pela morte, amedrontei-me, por sentir-me em desequilíbrio e, erradamente, procurei substituí-la, e fui acidentado.   Extremamente ligada a entidades malfazejas, minha segunda mulher, com os seus desvarios, arrastou-me a perversões sexuais de que nunca me supusera capaz. Voltei, insensivelmente, ao convívio de criaturas perversas e, tendo começado bem, acabei mal.

QUINTO CASO
No quadro dos meus trabalhos mediúnicos, estava a recordação de existências pregressas mas existe uma ciência de recordar, que não respeitei como devia.  Sentia, intuitivamente, a vívida lembrança de minhas promessas em “Nosso Lar”. Tinha o coração repleto de propósitos sagrados. Trabalharia. Espalharia muito longe a vibração das verdades eternas. Contudo, aos primeiros contatos com o serviço, a excitação psíquica fez rodar o mecanismo de minhas recordações adormecidas, como o disco sob a agulha da vitrola, e lembrei toda a minha penúltima existência, quando envergara a batina, sob o nome de Monsenhor Alexandre Pizarro, nos últimos períodos da Inquisição Espanhola.

SEXTO CASO
Foi, então, que abusei da lente sagrada a que me referi. A volúpia das grandes sensações, que pode ser tão prejudicial como o uso do álcool que embriaga os sentidos, fez olvidar os deveres mais santos… não estava satisfeito senão com rever meus companheiros visíveis e invisíveis, no setor das velhas lutas religiosas.  Impunha a mim mesmo a obrigação de localizar cada um deles no tempo, fazendo questão de reconstituir-lhes as fichas biográficas, sem cuidar do verdadeiro aproveitamento no campo do trabalho construtivo.

“A audição psíquica tornou-se-me muito clara; entretanto, não queria ouvir os benfeitores espirituais sobre tarefas proveitosas e sim interpelá-los, ousadamente, no capítulo da minha satisfação egoística. “Não faltaram generosas advertências”. Mas, qual! Eu não queria saber senão das minhas descobertas pessoais.

SÉTIMO CASO
“Tínhamos quatro reuniões semanais, às quais comparecia com assiduidade absoluta. Confesso que experimentava certa volúpia na doutrinação aos desencarnados de condição inferior. Para todos eles, tinha longas exortações decoradas, na ponta da língua. Aos sofredores, fazia ver que padeciam por culpa própria. Aos embusteiros, recomendava, enfaticamente, a abstenção da mentira criminosa. Os casos de obsessão mereciam-me ardor apaixonado. Estimava enfrentar obsessores cruéis para reduzi-los a zero, no campo da argumentação pesada. Somente aqui, de volta, pude verificar a extensão da minha cegueira.

“Por vezes, após longa doutrinação sobre a paciência, impondo pesadíssimas obrigações aos desencarnados, abria as janelas do grupo de nossas atividades doutrinárias para descompor as crianças que brincavam inocentemente na rua. Isso, quanto a coisas mínimas, porque, no meu estabelecimento comercial, minhas atitudes eram inflexíveis. Raro o mês que não mandasse promissórias a protesto público. Lembro-me de alguns varejistas menos felizes, que me rogavam prazo, desculpas, proteção. Nada me demovia, porém. Os advogados conheciam minhas deliberações implacáveis. Não conseguia perceber que a existência terrestre, por si só, é uma sessão permanente.
Passei para cá, qual demente necessitado de hospício. Tarde reconhecia que abusara das sublimes faculdades do verbo. Como ensinar sem exemplo, dirigir sem amor?  Entidades perigosas e revoltadas aguardaram-me à saída do plano físico… 

[…] alguns bons amigos me trouxeram até aqui. E imagine o irmão que meu Espírito infeliz ainda estava revoltado.
– Desde então, minha atitude mudou muitíssimo, entendeu?

“... a multiplicidade de fenômenos e as singularidades mediúnicas reservam surpresas de vulto a qualquer doutrinador que possua mais raciocínios na cabeça que sentimentos no coração.”


Texto original neste link: http://zip.net/btrCgN

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Neste domingo, dia 5, lançamento do MEDIUNIDADE SEM FRONTEIRAS em Olinda

Amigas e amigos,
no próximo domingo, dia 5 de julho, a partir das 9h, será lançado no Instituto Allan Kardec/Lar Ceci Costa, em Olinda, o livro MEDIUNIDADE SEM FRONTEIRAS. A obra foi lançada no último mês de março, em Belo Horizonte/MG, pela Editora Inede.

O livro foi construído a partir das experiências realizadas pelo grupo mediúnico do Instituto Espírita de Estudos e Divulgação do Evangelho - Inede, casa esta sediada na capital mineira, que foram ordenadas por uma das trabalhadoras da instituição, Fátima Ferreira.

MEDIUNIDADE SEM FRONTEIRAS é um relato do papel da mediunidade na transformação direta do ser, tendo como base o Evangelho do Cristo.

A partir de experiências de alguns nomes do Cristianismo, como Paulo de Tarso, Pedro, João Evangelista, a autora nos convida a reflexões sobre o papel do intercâmbio mediúnico nesse momento de transição planetária, principalmente, para àqueles que possuem de forma mais aguçada a faculdade.

Será que MEDIUNIDADE é apenas um instrumento para recebermos outros espíritos? De que forma ela pode e deve influenciar na melhoria íntima de quem a possui? Qual o reflexo da "conexão" entre médiuns e desencarnados no mundo íntimo do medianeiro? Por que temos tantas dificuldades em promover nossas auto reformas mesmo tendo acesso a uma doutrina imortalista como o Espiritismo?

Essas são algumas das indagações que a obra nos traz e que nós que fazemos o Grupo Espírita Esperança - Gespe, de Camaragibe, convidamos vocês a conhecerem no próximo domingo.

O evento conta com a participação da Fátima Ferreira e é aberto ao público.
Esperamos vocês!
Gespe



domingo, 28 de junho de 2015

As provas da convivência

Aproximá-los foi algo relativamente fácil, pois eles se reencontraram antes, por diversas vezes, nos palcos da existência. Pelos laços do afeto ou motivados por antagonismos, de um modo ou de outro, caminharam juntos antes mesmo de terem passado algum tempo, lado a lado, quando da preparação no Hospital Esperança de onde partiram para reencarnar.

Uma vez reunidos num mesmo centro espírita na capital mineira, instituição que leva no nome o estandarte do evangelho como símbolo, eles rapidamente se mobilizaram. Em pouco tempo conseguiram materializar as primeiras obras literárias destinadas a promover reflexões acerca de temas importantes para a edificação de uma nova mentalidade, menos religiosista e mais humanista, bem aos moldes dos objetivos educacionais do cristianismo, o qual prevê, entre outras coisas, a alteridade, a descentralização e a humanização das relações.

O grupo encarregado reunia as características essenciais para dar início à empreitada. Alguns tinham visão estratégica; outros o pensamento ágil; outros, ainda, a operosidade necessária para a ousada tarefa. Restava saber como se comportariam em relação aos desafios da convivência. Nisso residiria o sucesso do projeto.

Precisariam, acima de tudo, mostrarem-se capazes de agir para desalgemar o evangelho dos conceitos, a fim de trazê-lo para as próprias atitudes. Sem isso, repetiriam o velho hábito de ensinar sem antes terem assimilado plenamente a lição. Não dispondo da força necessária do exemplo, eles não obteriam a sinergia necessária para despertar nos outros grupos o desejo de fazer o mesmo. Por isso, o teste da convivência era algo tão expressivo para o sucesso do tentame.

Livro Mediunidade sem Fronteiras, cap. 18, págs. 184 e 185.
Autor Fátima Ferreira, Editora Inede

LANÇAMENTO NO PRÓXIMO DOMINGO, DIA 5 DE JULHO


domingo, 21 de junho de 2015

A gravidade do momento planetário - a responsabilidade dos médiuns

A espiritualidade nunca precisou tanto da cooperação dos médiuns como agora. É tempo para que os espíritos, em parceria com os homens, trabalhem pela desoneração do psiquismo adoecido do orbe, o qual adentra uma fase decisiva do processo de transição.

Há determinados trabalhos de desobsessão cuja solução demanda grandes articulações, as quais podem se arrastar por dias ou meses, o que requer planejamento e cuidados especiais por parte dos benfeitores. Por isso, eles precisam contar com médiuns dispostos a oferecer a necessária prontidão psíquica. 

Face à extensão das múltiplas demandas espirituais é preocupante a defasagem entre o número dos médiuns que se encontram em condição de cooperar e o volume de trabalho a ser realizado, dificultando, sobremaneira, a ação dos trabalhadores espirituais.

Holocaustos, terremotos, chacinas, tráfico, violência, presídios incendiados, disputas políticas fomentadas pelo ódio são, tao somente, alguns dos reflexos da realidade espiritual na qual estamos mergulhados.

A situação é grave e assemelha-se a verdadeira praça de guerra. No entanto, a massa humana insiste em viver embalada na crença de que, após o túmulo, encontrará o descanso eterno ou um plano espiritual de refazimento das lutas terrenas. Isso quando não seja o caso dos que acreditam não haver nada após a morte. 

(...) Seria ingenuidade de nossa parte pensar que a negação da existência do mal nos permitirá ver-mo-nos livres dele. De igual modo agem os que evitam falar na morte, pelo receio de atraí-la.

(...) Num campo de guerra quase nunca há médicos em número suficiente para atender os feridos. Isso obriga aqueles que estejam em melhores condições ter de se mobilizarem para aliviar os mais necessitados.  

LANÇAMENTO EM OLINDA DIA 5 DE JULHO



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Mediunidade sem Fronteiras será lançado em Olinda no dia 5 de julho

"O exercício de discernir os espíritos poderá contribuir para o autodescobrimento do medianeiro, desde que ele saiba como agir. Espera-se que o médium possa sentir os espíritos, ao invés de simplesmente percebê-los, através do impacto emocional que a sua aproximação produz nele".

Esse é um pequeno trecho do capítulo 6, do livro MEDIUNIDADE SEM FRONTEIRAS, lançado pela Editora Inede, de Belo Horizonte/MG.

No dia 5 de julho a autora da obra, Fátima Ferreira, estará no Instituto Allan Kardec, em Olinda, para fazer um seminário de lançamento do livro.
A entrada é franca e você é nosso convidado. 

Gespe


domingo, 7 de junho de 2015

Mediunidade e autodescobrimento

Na sua maioria os espíritos reencarnados são aqueles que, tendo maturidade espiritual suficiente para permanecer na Terra regenerada, ainda são reféns da lei de justiça. Passam presentemente pelos necessários testes de aferição, nos quais terão de demonstrar aptidão para resistir ao mal, ou então não apresentarão a vibração energética compatível com o psiquismo menos adensado que vige nos mundos regenerados.

Não é difícil entender porque a mediunidade assume papel ainda mais decisivo nessa hora em que os encarnados são disputados tanto pelo bem, como pelo mal. 

Essas almas já receberam várias oportunidades, nas quais poderiam ter feito a diferença, mas insistem em adiar o momento de desapegar-se de exterioridades, ainda insistem em ignorar tal necessidade. Com isso, folgam com o bem, tornando-se presas fáceis dos espíritos que, como eles, não pretendem abrir mão dos prazeres, desde os mais vis até os que nos pareça, inocentes deliberações do livre arbítrio.

Sabemos identificar o mal fora e achamos que isso é o suficiente. Entretanto, com maior frequência ainda não conseguimos reconhecer a manifestação do mal em nós, a influenciar as nossas escolhas. A mediunidade apresenta-se como oportunidade de abalarmos a visão distorcida que fazemos de nós mesmos, na medida em que nos coloca em contato mais próximo com o mundo interior, estrada que nos leva até a verdade.

O exercício de discernir os espíritos poderá contribuir para o autodescobrimento do medianeiro, desde que ele saiba como agir. Espera-se que o médium possa sentir os espíritos, ao invés de simplesmente percebê-los através do impacto emocional que a sua aproximação produz no médium. 

O transe é uma extensão do médium, o qual faz leituras energéticas do espírito a partir das referências energéticas que possua de si próprio. Há uma projeção ou espelhamento do mundo íntimo do espírito na intimidade do médium. Os nossos sentimentos servem para validar as impressões que recolhemos do mundo exterior por meio dos sentdos. Isso faz com que o médium consiga ter uma percepção clara das intenções do espírito, desde que, é claro, o médium saiba reconhecer o seu próprio modo de sentir.   

Não basta conhecermos a problemática do outro se não formos capazes de perceber os impactos de tal realidade na nossa intimidade. A honestidade será determinante para sentirmos a nós mesmos tal como nos encontramos, pois, escondidos por detrás de máscaras que nos permitem passar por quem ainda não somos, dificilmente perceberemos as reais intenções do outro.

Trecho do capítulo 6, Mediunidade em Tempos de Transição, págs. 61 e 62.
Livro Mediunidade sem Fronteiras, Editora Inede.
Autora: Fátima Ferreira 

Lançamento no Recife dia 5 de julho.