quarta-feira, 15 de julho de 2015

A amortização do sentir para fugir da culpa e suas consequências

(...) De tanto repetir o gesto infeliz de justificarmos os nossos equívocos, como meio de preservarmos a imagem idealizada, muitos de nós nos afastamos da nossa essência e nos tornamos mornos no sentir.

Servimos-nos da razão para criarmos subterfúgios capazes de dissimular as nossas fraquezas. Com isso vamos construindo novas máscaras que nos permitam adiar, o quanto possível, o momento de nos responsabilizarmos pelas nossas escolhas. 

Gregório, personagem da obra Libertação (André Luiz/Chico Xavier) é um exemplo de quantos se refugiaram na razão como meio de negar o sofrimento da consciência afogueada pela culpa. O autor nos apresenta um relato exasperado do personagem considerado o Sacerdote dos Mistérios Negros, que assim vocifera para os servidores do bem:

"(...) também noutra época, acreditei na celestial proteção através da atividade religiosa, nos ideais que hoje te empenhas. Entendi, contudo a tempo, que o trono Divino paira distante demais para que nos preocupemos em alcançá-lo. Não há um Deus misericordioso, e sim, uma Causa que dirige. Essa causa é inteligência, e não sentimento. Encastelei-me assim para não soçobrar."

O discurso do justiceiro ilustra o que ocorre além dos vales da sombra quando os espíritos, decepcionados e se sentindo culpados, perdem a vontade de reagir e optam por estacionar no erro, fazendo da iniquidade sua filosofia de vida. Sem coragem para assumir os próprios equívocos e recomeçar, eles se refugiam na razão para não experimentarem a consciência que acusa a falta através da dor.

Constroem castelos de ilusão para se protegerem e se tornam insensíveis à dor e à culpa. A iniquidade é a verdadeira loucura pois leva o espírito a se estagnar, dificultando o dinamismo da evolução. A acomodação de alguns retarda a marcha geral e, de algum modo, concorre para o avanço do mal.

Jesus disse que por causa da iniquidade o amor de muitos esfriaria*. Isso é algo que podemos observar em larga escala, tanto entre os homens como entre os espíritos.

De tanto evitar o auto-enfrentamento, chegamos a negar até mesmo o caráter profilático da dor. É comum ouvirmos de alguns que não fomos feitos para sofrer. De fato, não fomos mesmo criados para sofrer, mas a dor é o efeito dos nossos atos tresloucados.

Uma vez que tenhamos contrariado a lei natural, seremos chamados a reparar todo mal que tenhamos feito e a dor é o alarme da consciência. Compete-nos, contudo, entendermos a diferença entre dor e sofrimento. A dor é um sinalizador do desvio de rota que tenha acontecido em algum momento de nossa existência; ela visa nos impulsionar a reparar as faltas. Já o sofrimento denota a rebeldia do espírito imaturo, que se recusa a aprender a lição. O sofredor é quase sempre aquele resistente que se sente injustiçado pela vida.

Os sofredores vibram no mesmo diapasão dos espíritos que rejeitam as leis Divinas por considerá-las injustas. Por lei de sintonia, são facilmente influenciado por eles. 

Trecho do livro Mediunidade sem Fronteiras, cap. 11, Razão e Iniquidade, págs. 118 e 119
Autora: Fátima Ferreira. Editora Inede

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