terça-feira, 23 de setembro de 2014

Kardec e a convivência com médiuns orgulhosos e melindrosos

"A já longa convivência com médiuns e adeptos de diferentes perfis permitiria a Kardec classificar os espíritas em três categorias básicas, listadas em seus discursos:

- Os que creem pura e simplesmente nos fenômenos, mas que deles não deduzem qualquer consequência moral. Os que percebem o alcance moral, mas o aplicam aos outros e não a eles mesmos. Os que aceitam pessoalmente todas as consequências da doutrina e que se esforçam por praticar a sua moral.

Em muitos encontros, era grande a quantidade de médiuns ou de interessados em atuar como instrumentos de comunicação com o além. E era a eles que Kardec endereçava os recados mais diretos, e mais duros. Deveriam se cuidar para que não se tornassem inimigos internos da própria doutrina.

Alguns poderiam errar por interesse material - e todos precisariam assumir o compromisso de renegar quaisquer médiuns que cobrassem por seus serviços. Outros poderiam se equivocar por pura vaidade, ávidos não por dinheiro, mas por projeção. Outros ainda poderiam ser traídos pelo orgulho. E Kardec já estava cansado deles: dos médiuns que atribuíam todas as mensagens que recebiam a espíritos superiores, sem questionar e sem aceitar críticas contrárias.

Críticas que o mestre costumava fazer e que já tinham provocado uma série de dissidências. Sem dar nomes, Kardec contou, em seu périplo pela França, uma história recente de orgulho ferido. Inconformado porque não fora convocado a psicografar em determinada reunião, um médium se retirou da sessão e protestou contra o tratamento "imperdoável".

Kardec ainda estava indignado com o episódio:
- Imperdoável! Concebei esta palavra nos lábios de pessoas que se dizem espíritas? Eis aqui uma palavra que deveria ser riscada do vocábulo espírita!

O mesmo médium exigia atenção constante e admiração de todos, como se fosse alguém especial, escolhido por Deus para a missão de dar voz aos espíritos. A tensão sempre aumentava diante dele, porque qualquer palavra poderia ferir sua vaidade. Como lidar então com intermediários desse tipo? Kardec deu a receita em seu discurso:

- Eu os convido a tomar minha atitude, isto é, a de não dar importância a médiuns que antes constituem um entrave do que um recurso."

Trecho do livro: KARDEC - A biografia, de Marcel Souto Maior
Capítulo "Na Estrada", págs. 224 e 225

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